Sustentabilidade e ESG
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Da COP16 de Biodiversidade à COP29 de Mudanças Climáticas

Contexto


Adotada em Nairobi em 1992, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Biodiversidade é o documento base da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, que ocorre a cada dois anos. Estamos agora em seu 16º encontro. A convenção entrou em vigor em 1993, e o Brasil a ratificou em 1998.  


As discussões sobre o conteúdo da convenção foram lideradas pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) a partir de 1988, quando todos os grupos de trabalho foram unificados no Comitê Intergovernamental de Negociação (CIN) para a redação do texto final a ser apresentado na ECO-92 (LE PRESTE, 2005). O foco geral da convenção é a conservação e o uso sustentável e equitativo da riqueza biológica e de seu conteúdo genético, sendo esses os três objetivos-chave (LE PRESTE, 2005). Como é habitual em discussões sobre mudanças climáticas, as diferenças entre os países do Norte e do Sul, assim como a pauta de financiamento, estão sempre presentes.  


Por ser uma “Convenção-Quadro”, suas disposições são gerais e a implementação ocorre ao longo dos anos, por meio de protocolos, acordos ou atividades previstas por órgãos criados a partir da convenção. Certamente, os temas mais disputados são biotecnologia, mapeamento genético e transferência de tecnologia associada. Acerca disso, a Convenção estabelece o princípio da soberania como pressuposto para alcançar seus objetivos, porém prevê exceção caso o uso almejado seja para fins “ambientalmente saudáveis” (Accioly, 2017, p. 784).   


No último encontro da Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP15), foi adotado o Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal. Este marco estabelece dois conjuntos de metas: 23 a serem alcançadas até 2030 e outras 4 metas holísticas até 2050. Uma dessas metas prevê a criação de uma arquitetura que garanta meios de implementação, financiamento, construção de capacidades, cooperação técnica e científica, além de acesso e transferência de tecnologias para os países em desenvolvimento, pequenas ilhas e economias em transição. 


Nesse contexto, foi identificado um déficit de 700 bilhões de dólares por ano para alcançar os principais objetivos da convenção. Em comparação, no caso das mudanças climáticas, esse déficit é ainda mais significativo. Os compromissos assumidos pelos países desenvolvidos de fornecer 100 bilhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento ainda não foram concretizados, e o valor é substancialmente menor do que o necessário para a biodiversidade. 


Especificamente no que diz respeito à pauta de energias renováveis, o déficit é estimado em 4 trilhões de dólares anuais até 2030, a fim de atingir a meta de neutralidade de carbono até 2050. Para a descarbonização, seriam necessários entre 4 e 6 trilhões de dólares anualmente. 


As 23 metas do Marco Global de Biodiversidade foram divididas em três dimensões: a primeira relacionada à redução das ameaças à biodiversidade, a segunda focada em garantir as necessidades das pessoas e a terceira voltada para as ferramentas e soluções necessárias à implementação e à integração das ações. Além disso, o Marco prevê um financiamento de 200 bilhões de dólares, um valor que é inferior ao déficit identificado. Entre as metas estabelecidas, destaca-se a proteção de 30% dos ecossistemas e áreas degradadas do planeta, abrangendo áreas terrestres, marinhas e de água doce.  


Assim como no caso das COPs sobre mudanças climáticas, os Estados-Parte assumem compromissos com base em suas características particulares, nível de desenvolvimento, estratégia e disposição diplomática. Publicada em 2017, a Estratégia e Planos de Ação Nacionais para a Biodiversidade (EPANB) contempla o período entre 2010 e 2020, e sua revisão foi aberta à consulta pública em 2023, permitindo que o Brasil contribuísse com novos compromissos na COP16. O foco da delegação brasileira está no financiamento e no sequenciamento digital de recursos genéticos.   

 

 

Pautas estratégicas da COP16 

 

Na COP16 da Biodiversidade, os principais pontos discutidos incluíram a revisão das metas, planos e estratégias dos países, além da verificação da adequação ao marco global. Até o momento, 35 países apresentaram seus planos, o que representa apenas 18% dos 191 Estados-Partes que aderiram à Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). A clássica e necessária pauta sobre financiamento foi abordada, buscando estruturar fontes, orçamentos e gestão. Estima-se que parte desse volume financeiro possa vir de subsídios direcionados a setores que impactam negativamente a biodiversidade, como os setores alimentar e energético.  


Houve também um foco na definição de metodologias e indicadores para acompanhar o cumprimento das metas. A base de dados de sequenciamento genético dos seres vivos, conhecida como Informações de Sequência Genética Digital, será objeto de intensas negociações. Setores como o farmacêutico e cosmético, que dependem dessas informações, poderão ser obrigados a pagar pelo acesso a essa base, que será gerida em âmbito público e privado, beneficiando países e comunidades locais ricas em biodiversidade, além de servir como um componente de exportação e agregação de valor. 


Quanto às informações genéticas, é fundamental garantir um compartilhamento justo e equitativo, respeitando o princípio da soberania. Outro foco crucial é a possibilidade de um acordo que estabeleça um plano de trabalho e implementação, reconhecendo o papel fundamental dos povos indígenas na preservação da biodiversidade e legitimando-os como stakeholders capazes de contribuir para o alcance das metas do marco global.

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Quadro Resumo das Metas do Marco Global da Biodiversidade

Meta 1

Perda Zero, até 2030, de áreas de importantes para a biodiversidade, incluindo ecossistemas ecologicamente integrados.

Meta 2

Restauração efetiva de 30% das áreas degradadas terrestres, aquáticas continentais, e de ecossistemas costeiros e marinhos.

Meta 3

Até 2030, efetiva conservação de ao menos 30% das “áreas terrestres e de águas continentais, e das áreas costeiras e marinhas”

Meta 4

Redução do “risco de extinção” de espécies, manutenção e restauração da “diversidade genética”, tanto mediante “conservação in situ e ex situ e de práticas de manejo sustentável”.

Meta 5

Sustentabilidade, segurança e licitude do “uso, coleta e comércio de espécies silvestres”, visando evitar “sobre-explotação” e reduzir o “risco de propagação de patógenos”.

Meta 6

Redução, eliminação, minimização e mitigação dos “impactos de espécies exóticas invasoras na biodiversidade e serviços ecossistêmicos”, focando na diminuição, até 2030, de 50% das “taxas de introdução e o estabelecimento de outras espécies exóticas invasoras conhecidas ou potenciais”. 

Meta 7

Tendo como referência os “níveis que não sejam prejudiciais à biodiversidade e às funções e serviços ecossistêmicos”, diminuir os “riscos de poluição e o impacto negativo da poluição de todas as fontes” até 2030, reduzindo, “no mínimo pela metade”, (i) o “excesso de nutriente perdidos para o meio ambiente”; (ii) o “risco total de pesticidas e produtos químicos altamente perigosos”.

Meta 8

Minimização do impacto e aumento da resiliência da biodiversidade face às mudanças climáticas e acidificação dos oceanos, focando em ações que contemplam a “mitigação, adaptação e redução dos riscos de desastres”, incorporando ainda, “soluções baseadas na natureza e/ou abordagens baseadas nos ecossistemas”.

Meta 9

“Manejo e o uso” “sustentáveis” de “espécies silvestres”, visando proporcionar “benefícios sociais, econômicos e ambientais para as pessoas”.

Meta 10

Sustentabilidade do manejo das “áreas de agricultura, aquicultura, pesca e silvicultura”, visando à inovação agroecológica harmônica com a biodiversidade para preservar a longevidade da produtividade dos “sistemas de produção e segurança alimentar”, preservando o elo entre a natureza e as pessoas, “funções e serviços ecossistêmicos”. 

Meta 11

Através de “soluções baseadas na natureza e/ou abordagens baseadas nos ecossistemas”, a restauração, manutenção e melhoria das “funções e dos serviços ecossistêmicos”, preservando a transferência dos benefícios da natureza às pessoas, incluindo “regulação do ar, da água e do clima, a saúde dos solos, a polinização e a redução dos riscos de doenças, assim como a proteção contra riscos e desastres naturais”.

Meta 12

Planejamento urbano que incorpore a biodiversidade, aumentando sustentavelmente “a área e qualidade, conectividade, o acesso e os benefícios de espaços verdes e azuis em áreas urbanas e densamente povoadas”.

Meta 13

À medida que for “apropriado”, promover “medidas jurídicas, políticas, administrativas e de capacitação eficazes”, visando a “repartição justa e equitativa dos benefícios” do “patrimônio genético” e “sequências genéticas digitais”, almejando a facilitação do acesso até 2030.

Meta 14

Incorporação da “biodiversidade e seus múltiplos valores em políticas, regulamentos, planejamento e processos de desenvolvimento, estratégias de erradicação da pobreza, avaliações ambientais estratégicas, avaliações de impacto ambiental e, conforme apropriado, contabilidade nacional, por todos os níveis de governo e setores”, “alinhando progressivamente todas as atividades públicas e privadas relevantes e os fluxos fiscais e financeiros com os objetivos e metas do Marco”.

Meta 15

Adoção de “medidas legais, administrativas ou políticas”, visando que “empresas grandes e transnacionais e instituições financeiras” passem a divulgar (i) “riscos, dependências e impactos sobre a biodiversidade” em toda a cadeia de valor, portfólio e operações; (ii) aos consumidores, informações para o consumo sustentável; (iii) status sobre “cumprimento dos regulamentos e medidas de acesso e repartição de benefícios”.

Meta 16

Encorajamento do consumo sustentável e consciente, a partir da disseminação de informações, educação e regulamentação, e, até 2030 “reduzir a pegada global de consumo” e reduzir “pela metade o desperdício global de alimentos”. 

Meta 17

A partir da implementação de medidas, desenvolver e robustecer a capacidade estrutural de biossegurança, bem como a biotecnologia. 

Meta 18

Até 2025, mapear os subsídios existente que prejudicam a biodiversidade, visando eliminá-los, reformá-los ou reduzi-los progressivamente em US$ 500 bilhões até 2030, fomentando de maneira concomitante os positivos. 

Meta 19

Mobilização de recursos financeiros “nacionais, internacionais, públicos e privados” para “implementar estratégias e planos de ação nacionais de biodiversidade, mobilizando pelo menos 200 bilhões de dólares americanos por ano, até 2030”.  

Meta 20

Fortalecimento da “capacitação”, do “desenvolvimento”, da “transferência” e da “cooperação técnica e científica” para “inovação” entre “Sul-Sul, Norte-Sul e triangular”, visando descobertas em “conservação e uso sustentável da biodiversidade”. 

Meta 21

Acessibilidade assegurada de “dados e informações” por parte dos “tomadores de decisão”, “profissionais” e “público”, visando orientar a “governança” para a biodiversidade. Deve ser garantida a liberdade na transferência de conhecimento dos “povos indígenas, povos e comunidades tradicionais”.

Meta 22

“Assegurar a proteção integral dos defensores dos direitos humanos” e “assegurar a representação plena, equitativa, inclusiva, efetiva pela perspectiva de gênero e a participação na tomada de decisão”, preservando e promovendo o acesso à “justiça e a informações relacionadas à biodiversidade, pelos povos indígenas e povos e comunidades tradicionais, respeitando suas culturas e seus direitos sobre terras, territórios, recursos e conhecimentos tradicionais, bem pelas mulheres e meninas, crianças e jovens, e pessoas com deficiências”.

Meta 23

“Zelar pela igualdade de gênero na implementação do Marco”, visando a “igualdade de direitos e acesso à terra e aos recursos naturais e a sua participação e liderança plenas, equitativas, significativas e qualificadas em todos os níveis de ação, engajamento, política e tomada de decisões relacionados à biodiversidade”.

 

Fonte: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E MUDANÇA DO CLIMA. Caderno de Resumos: Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB; Estratégia e Planos de Ação Nacionais para a Biodiversidade – EPANBs, disponível em: *caderno-de-resumos-epanb.pdf 

O Brasil estabeleceu, por meio da Resolução da Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO) de 2013, as metas nacionais de biodiversidade, que consistem em 20 metas e um total de 70 indicadores. Segundo a EPANB, “o Brasil possui a maior biodiversidade do planeta” (p. 28). O número de espécies mapeadas no país é surpreendente. De acordo com o mesmo documento, o total de espécies ameaçadas chega a 3.286, das quais 785 estão “criticamente em perigo”, 947 são “vulneráveis”, 1.553 estão “em perigo” e 1 está “extinta na natureza”.

 

É importante mencionar também a Política Nacional de Biodiversidade de 2002. Entre as 20 metas nacionais da EPANB, as metas 3 e 4 têm uma conexão direta e significativa com o setor empresarial. A meta 3 aborda a questão dos subsídios, enquanto a meta 4 trata da implementação de planos de produção e consumo sustentáveis. 

Fonte: EPANB

Visão para o mundo corporativo 

 

Já mencionamos em outras edições a Research+ que os documentos intergovernamentais são as principais referências na construção de boas práticas para as empresas, tendo sido amplamente incorporados nas diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI). Um exemplo claro são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) do Pacto Global da ONU. 


No contexto da biodiversidade, começamos nossa análise pela Meta 14, que demonstra uma convergência com as tendências atualmente incorporadas nos principais frameworks do International Financial Reporting Standards (IFRS), como S1 e S2, especialmente em relação à conexão com a contabilidade e à integração com metodologias financeiras de avaliação. A Meta 14 propõe integrar a biodiversidade em diversos elementos da governança pública, incluindo a contabilidade nacional, destacando a necessidade de considerar, tanto nas atividades públicas quanto nas privadas, fluxos fiscais e financeiros em alinhamento com o Marco da Biodiversidade. 


Da mesma forma, a Meta 15 revela uma convergência com a ênfase do IFRS nas “relações de dependência” e “impacto” relacionados à biodiversidade, ressaltando a importância crucial da divulgação dessas informações e do status de conformidade com as regulamentações. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e suas associadas, por exemplo, visaram não apenas à implementação da EPANB, mas também à ênfase na Meta 15. 


Outras duas metas que apresentam um potencial significativo para a esfera corporativa são as Metas 18 e 19. A Meta 18, relacionada a subsídios, pode impactar setores específicos, tanto pela retirada de incentivos quanto pelo fomento a novas iniciativas. Por sua vez, a Meta 19, que aborda o financiamento, pode abrir oportunidades valiosas para o setor privado.  


Na área de contabilidade e economia, a Comissão de Estatística das Nações Unidas já aprovou um padrão metodológico para ser amplamente utilizado pelos países, conhecido como Sistema de Contabilidade Econômica Ambiental (CEA), que será aplicado nas Contas Econômicas Nacionais. 


Assim como as empresas têm começado a divulgar suas metas e a mostrar como estão contribuindo para o avanço dos ODS mais relevantes, as metas globais e específicas de biodiversidade também devem ser analisadas sob a perspectiva da materialidade e da transparência. Isso é especialmente importante considerando o cenário que se forma em decorrência das padronizações elaboradas pelo IFRS, que deve lançar em breve o S3, focado no capital natural, ou seja, na biodiversidade e nos ecossistemas. Além disso, é fundamental acompanhar os diversos indicadores do EPANB, participar de consultas públicas e considerar as ações das entidades representativas de classe para fomentar o engajamento e a visão estratégica. Plataformas de financiamento também podem surgir, como é o caso do PIB, recentemente lançado pelo governo brasileiro. 

 

 

Biodiversidade e mudanças climáticas 

 

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estabelece um vínculo científico direto entre as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. No Balanço Global da COP28, o Marco Global da Biodiversidade foi citado, destacando a convergência e interdependências entre seus respectivos caminhos. 


Até a finalização deste texto, o principal resultado da COP16 foi o Acordo de Proteção da Biodiversidade nos Mares e Oceanos. No entanto, persiste a dificuldade em relação ao financiamento dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, uma questão recorrente. Para a COP29, os desafios incluem a avaliação dos esforços de adaptação dos países em desenvolvimento, a origem do financiamento acordada e a operacionalização de uma transição climática “justa e equitativa”. Além disso, é necessário definir como será executado o “afastamento dos combustíveis fósseis”. É fundamental acompanhar os desdobramentos relacionados ao estabelecimento dos indicadores do Objetivo Global de Adaptação e as atualizações sobre o Mercado de Carbono, que ficaram estagnadas após a COP28, bem como a pauta de perdas e danos e a comunicação da revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). 

Fonte: IPCC, Mudança do Clima 2023: Relatório Síntese do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC, tradução em português conjunta entre o Governo do Brasil e o Pacto Global da ONU

Fonte: IPCC, Mudança do Clima 2023: Relatório Síntese do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC, tradução em português conjunta entre o Governo do Brasil e o Pacto Global da ONU 

Lembrando alguns pontos críticos do Balanço Global da COP28 (Global Stock Take): 

 

- “Nota”, “com preocupação”, que, considerando as atuais NDCs e sua implementação efetiva, as emissões seriam reduzidas, em média, em 2% até 2030 em relação ao nível de 2019, o que seria insuficiente para atingir o Acordo de Paris, sendo necessárias ambições de redução mais significativas. 

- Os países desenvolvidos não reduziram suas emissões em 25-40% abaixo dos níveis de 1990, tal como teria indicado o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). 

- Até 2030, todos os países terão que ter Planos Nacionais de Adaptação. 

- É necessário triplicar a capacidade global de energia renovável. 

- É urgente acelerar as reduções de metano até 2030. 

- Promover a eliminação gradual dos subsídios aos combustíveis fósseis. 

- É fundamental estabelecer uma Meta Global de Adaptação. 

- O primeiro Relatório Bianual de Transparência deve ser apresentado até o final de 2024. 

- Rede de Santiago: fortalecer a colaboração entre países para a troca de boas práticas na implementação das NDCs. 

- Comunicação das NDCs a cada 5 anos. 




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Tecnologias para a economia circular e cadeia de suprimentos 

Em 2024, o Brasil adotou a Nova Política Nacional de Economia Circular. Durante sua presidência no G20, o país conseguiu a assinatura unânime de uma declaração que abrange oceanos, financiamento para mudanças climáticas, serviços ecossistêmicos e economia circular. Para alcançar o objetivo de inovação, não é suficiente apenas injetar capital em pesquisa e desenvolvimento; é crucial também ter um conhecimento abrangente das tecnologias disponíveis no mercado, sua aplicabilidade e as lacunas existentes. 


A pesquisa da Verdantix, intitulada “Tech Roadmap: Circular Economy and Supply Chain Sustainability Technologies (2024)”, compila diversos produtos, serviços e soluções, analisando a maturidade das tecnologias, sua capacidade de geração de valor, o ritmo de inovação e seus principais fornecedores. O estudo se concentra em tecnologias que estão nas fases de pesquisa, desenvolvimento ou lançamento. 


Em relação às fases em que cada tecnologia se encontra e suas respectivas definições, o estudo organiza as informações da seguinte maneira: 

 

 

Fase de pesquisa e desenvolvimento R&D:  


  • Nanotecnologia: tecnologia que atua de forma significativa em materiais, melhorando sua durabilidade e circularidade. Essa abordagem se caracteriza pela manipulação de estruturas em uma escala extremamente pequena, trabalhando com átomos e moléculas em dimensões inferiores a 100 nanômetros. 


  • AI ar sorting (triagem com inteligência artificial e realidade aumentada): refere-se ao uso de Inteligência Artificial e realidade aumentada para otimizar processos de separação, organização e triagem de resíduos, materiais e objetos em geral.  


Fase de lançamento:  


  • IoT enabled smart waste bins (lixeiras inteligentes habilitadas por IoT): tecnologia que utiliza sensores e robótica para identificar e separar materiais recicláveis descartados. 


  • Augmented reality (AR)/virtual reality (VR) for virtual try-on (VTO) (realidade aumentada - AR / realidade virtual - VR para prova virtual - VTO): tecnologia que combina mapeamento 3D e Inteligência Artificial para analisar fisicamente o espaço e os corpos, além de prever movimentos. Com o crescimento do e-commerce, essas tecnologias oferecem representações realistas das experiências de uso de produtos, como roupas, maquiagem, tintura de cabelo, móveis, imóveis e entretenimento. Isso resulta em maior precisão e assertividade na escolha dos consumidores, reduzindo as taxas de devolução e a necessidade de locomoção, com um potencial estimado de redução de emissões em até 46%. Além disso, essa tecnologia proporciona a redução de custos e promove práticas de consumo mais consciente, agregando tanto valores materiais quanto imateriais.  


  • IA robotics sorting and waste data analytics (triagem robótica com IA e análise de dados de resíduos): integra hardware e software, utilizando robótica e Inteligência Artificial para a separação de materiais e a análise de dados. 


  • Augmented reality (AR)/virtual reality (VR) for maintenance and repair (realidade aumentada - AR / realidade virtual - VR para manutenção e reparos): uso de tecnologia 3D e realidade aumentada para indicar diagnósticos e pontos de manutenção, aprimorando os processos de manutenção de máquinas e equipamentos. Essa abordagem ajuda a evitar o deslocamento das equipes e prolonga a vida útil dos instrumentos de produção.  


  • Augmented reality (AR)/virtual reality (VR) for training (realidade aumentada - AR / realidade virtual - VR para treinamento): tecnologias de realidade aumentada e virtual que proporcionam treinamento prático e teórico, reduzindo riscos e custos no mundo real. De acordo com o estudo da Verdantix, os benefícios incluem uma redução de 75% no tempo de treinamento, um aumento de 275% na confiança dos participantes (PwC), e uma diminuição de 12% nos acidentes (International Journal of Environmental Research and Public Health).  


  • Advanced recycling technology (tecnologia avançada de reciclagem): tecnologia avançada de reciclagem, que converte resíduos em materiais brutos reutilizáveis, por meios de métodos químicos, térmicos e biológicos. São utilizadas estratégias como pyrolysis (decomposição térmica), gasificação (waste-to-fuel), solvolysis (dissolução por solventes) e despolimerização.  


  • Sustainable product and materials traceability (rastreabilidade de produtos e materiais sustentáveis): rastreio de produtos e materiais, fazendo o mapeamento de seu histórico, localização, jornada e aplicação em seu ciclo de vida completo. Esse processo é facilitado por tecnologias como barcode (códigos de barras), scanning, QR code, frequência de rádio, blockchain e Digital Product Passports (DPPs). A rastreabilidade proporciona maior transparência aos stakeholders com relação ao produto comercializado, facilitando a tomada de decisão. 


  • Next-generation design applications (aplicações de design da próxima geração): adaptações de design da “próxima geração” que se integram à economia circular utilizando diversas tecnologias, como design assistido por computador (computer-aided design - CAD), engenharia assistida por computador (computer-aided engineering - CAE), realidade aumentada (augmented reality - AR), design generativo e eco-design de software. 

 

Fase de crescimento:  


  • 3D Printing (impressão 3D): impressoras 3D criam objetos, camada por camada, a partir de um modelo digital. Esse tipo de processo, quando otimizado para eficiência, utiliza um volume menor de material e pode produzir designs mais complexos do que os métodos tradicionais conseguem alcançar. 


  • Digital Circular Marketplace Platforms (Plataformas de Marketplace Circular Digital): marketplaces online que promovem a circularidade ao facilitarem a troca, o reuso e a reciclagem de bens e serviços. Essas plataformas podem incorporar tecnologias como blockchain ou outros métodos, mas, em essência, são organizadas em um marketplace com uma abordagem mais sustentável. 


  • Supply Chain Sustainability Software (Software de Sustentabilidade na Cadeia de Suprimentos): softwares de Supply Chain oferecem uma abordagem integrada de ESG e sustentabilidade, unindo a gestão de dados a funcionalidades específicas. Eles permitem mapear a gestão de riscos e o engajamento de fornecedores, facilitando o monitoramento das práticas ambientais e sociais ao longo da cadeia de valor. 


  • Product Compliance Software (Software de Conformidade de Produtos): softwares de conformidade são ferramentas eficazes para gerenciar informações e conteúdos relevantes em uma base de dados de compliance ao longo do ciclo de vida dos produtos. Esses softwares abrangem a gestão de substâncias químicas, safety data sheet (SDS), além da autorização e análise da composição dos produtos, focando em soluções que garantem a conformidade regulatória.  


  • ESG Reporting Software (Software de Relatórios ESG): software de Report ESG, que tem como objetivo coletar, analisar e gerir informações relacionadas a ESG, visando alcançar um nível específico de sustentabilidade. Além disso, esses softwares facilitam a elaboração de relatórios que são obrigatórios em relação às regulamentações, padrões voluntários e frameworks relevantes. 


  • Carbon Management Software (Software de Gestão de Carbono): conhecido como CMS, esse Software as a Service (SaaS) permite um nível corporativo de análise das emissões de carbono ao longo de toda a operação (Escopo 1, 2 e 3). 


  • Reverse Logistics (Logística Reversa): em Logística Reversa, as soluções digitais se referem a tecnologias e ferramentas desenhadas para gerir a cadeia de bens de consumo após o fim do uso do produto. Tecnologias como IoT (internet das coisas) melhoram o rastreamento de produtos, enquanto o blockchain facilita a transparência. Além disso, outras tecnologias otimizam os processos de logística reversa, contribuindo para uma gestão mais eficiente. 


Em maturidade


  • Transportation Management Systems (Sistemas de Gestão de Transporte): a gestão de sistema de transportes foca em processos logísticos, cobrindo saídas, entradas, planejamento, execução e otimização de processos. Esses sistemas utilizam algoritmos avançados, AI, blockchain, análises em tempo real e IoT (internet das coisas) para aumentar a eficiência e coordenação na cadeia logística. 


  • EHS (Environment, Health and Safety), Software (Software de EHS - Ambiente, Saúde e Segurança): plataforma digital projetada para ajudar as empresas a gerenciar e monitorar atividades relacionadas à saúde, segurança e ao meio ambiente no local de trabalho. O software centraliza essas informações, utilizando diversos indicadores, como segurança, gestão de água e gestão de resíduos, entre outros. Esses softwares podem ser instalados localmente (“on-premise”) ou baseados em nuvem (“cloud”). 


  • Product Lifecycle Management Software (Software de Gestão do Ciclo de Vida do Produto): software que centraliza o gerenciamento do ciclo dos produtos, desde o seu projeto até a produção, uso e descarte. As tecnologias associadas permitem a criação de “gêmeos digitais”, que são modelos utilizados para testes e simulações online, podendo ser aplicados no design sustentável. 


  • Supply Chain Management Software (Software de Gestão da Cadeia de Suprimentos): plataforma digital que permite o gerenciamento de ponta a ponta dos materiais, informações e aspectos financeiros ao longo de toda a cadeia de fornecedores. Esse software integra processos-chave, como procurement, produção e logística, visando melhorar a eficiência operacional. 


  • Lifecycle assessment software (Software de Avaliação do Ciclo de Vida): software baseado em sistema que utiliza uma ferramenta quantitativa para ajudar a entender os impactos ambientais dos ativos ao longo de seu ciclo de vida, fundamentando-se em bases de dados internas e externas. 

Fontes de Informação e Referências


1Resumão dos resultados da Conferência de Bonn 2024 (SB 60) - LACLIMA


*COP 16: Brasil reforça compromisso com meio ambiente e apresenta estratégias para conservação da biodiversidade global — Secretaria de Comunicação Social (www.gov.br) 


Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal | UNEP - UN Environment Programme 


Plataforma Brasil de Investimento Climático e para a Transformação Ecológica é lançada para ajudar o Brasil a alcançar suas metas de desenvolvimento e clima — Ministério da Fazenda (www.gov.br) 


Agência BNDES de Notícias - Governo Federal, BNDES e parceiros lançam plataforma com metas de desenvolvimento e clima 


*221222-CBD-PressRelease-COP15-Final.pdf 


LE PRESTE, Philippe. Ecopolítica Internacional. 2 ed. São Paulo, 2005.  


Biblioteca Digital: Estratégia e Plano de Ação Nacionais para a Biodiversidade – EPANB 


**Conheça as cinco principais negociações da COP16, em Cáli, na Colômbia | ONU News 


***CEBDS mobiliza setor empresarial para ações durante a COP16 - CEBDS 


Proteção da biodiversidade nos mares e oceanos é 1º grande acordo da COP16 | Exame 


Indicadores MNBs -final final.pdf 


Estratégia e Plano de Ação Nacionais para a Biodiversidade EPANB.pdf — Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima


IFRS - Biodiversity, ecosystems and ecosystem services 


History of the Convention 


COP16: A história da conferência que não terminou | Mundo | Valor Econômico 


ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2017. 


Tech Roadmap: Circular Economy And Supply Chain Sustainability Technologies (2024) (verdantix.com)  

 

Grupo de Sustentabilidade consegue alcançar unanimidade em declaração | Brasil | Valor Econômico (globo.com) 

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